10 poluentes que mais matam no mundo
Jessica Soares 5 de março de 2013
Pelo menos 125 milhões de pessoas no mundo têm a saúde comprometida pela poluição tóxica.
E a culpa é da atividade industrial. Chumbo, cromo, mercúrio, amianto,
cádmio e compostos orgânicos voláteis – os poluentes mais comuns e mais mortais do planeta – já diminuíram 17 milhões de anos de vida nos países em desenvolvimento*. Isso só em 2012.
Os dados são do World’s Worst Pollution Problems Report
(“Relatório de piores problemas do mundo relacionados à poluição”, em
português), documento elaborado com base nas informações coletadas por
um programa de identificação de locais tóxicos implementado pelo Instituto Blacksmith
em parceria com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial (UNIDO). Este indicador estima, simultaneamente, o impacto da
mortalidade e dos problemas que afetam a qualidade de vida. Por isso, é
um importante instrumento para avaliar o estado de saúde da população.
O relatório mede o impacto da exposição a poluentes tóxicos em Disability Adjusted Life Years (DALYs), ou seja, Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade.
Se já é assustador imaginar que a poluição tira tanto tempo de vida,
fica ainda comparar com outras doenças: o número é superior aos 14
milhões de DALYs causados pela malária e não está muito atrás dos 34
milhões de anos perdidos devido à tuberculose e 29 milhões provocados
pelo HIV/AIDS.
Conheça os 10 maiores focos de poluição do mundo e seus impactos na expectativa de vida e saúde da população:
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1. Reciclagem de baterias
1. Reciclagem de baterias
Anos de vida perdidos: 4,8 milhões
Apesar de serem recarregáveis, o desgaste de baterias chumbo-ácidas
(usadas em automóveis para partida, iluminação e ignição) diminui sua
capacidade de acumular energia elétrica. O problema é que, quando estas
baterias são recicladas, os metais são separados dos plásticos para a
reutilização dos materiais na cadeia produtiva. Em países de baixa e
média renda, o crescimento da indústria automobilística aumenta a
demanda por chumbo e a reciclagem dessas baterias se torna, por sua vez,
também uma grande indústria. Quando a fiscalização ambiental é
ineficaz, esta demanda é suprida por usinas de reciclagem informais,
onde é comum que as baterias chumbo-ácidas sejam quebradas usando
machados ou martelos e a fundição dos componentes metálicos ocorre em
locais abertos. Aí, já viu: sem regulamentação, este tipo de
atividade libera chumbo no meio ambiente e contamina os trabalhadores e a
população, podendo causar problemas neurológicos e de desenvolvimento.
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2. Fundição de chumbo
2. Fundição de chumbo
Anos de vida perdidos: 2,6 milhões
A fundição é um processo industrial que trata os minérios de chumbo
para remover as impurezas para a produção do chumbo metálico. Mas esse
processo não é tão limpinho e pode liberar poluentes pesos-pesados.
Os maiores focos de contaminação relacionados a esta atividade estão na
China, Europa Oriental, América do Sul e no Sudeste Asiático. Nestes
locais, a legislação ambiental frouxa permite que elementos liberados na
fundição do chumbo sejam soltos no ambiente. Emissões atmosféricas
podem conter vapores de chumbo e pó, enxofre e dióxido de carbono, além
de finas partículas de poeira com arsênio, antimônio, cádmio, cobre e
mercúrio. Nos processos de fundição sem controle da poluição, emissões
atmosféricas podem chegar a conter até 30 kg de chumbo por tonelada
métrica de chumbo produzido. É poluente que não acaba mais. Como se não
bastasse, substâncias tóxicas podem ser encontradas na água perto das
fábricas de fundição – o controle ambiental inadequado faz com que
líquidos residuais provenientes de processos de fundição sejam
misturadas à água consumida pela população, sem a descontaminação
necessária.
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3. Mineração e processamento de minérios
Anos de vida perdidos: 2.521.600
O processo de remoção de minérios, minerais, metais e pedras
preciosas da terra é importante para produção dos mais variados produtos
e materiais, mas pode trazer também grandes impactos à saúde humana.
Normalmente, o minério extraído é transportado para instalações onde é
processado, lavado e separado para obtenção de minerais. A etapa
seguinte inclui o refino de fundição ou algum outro tipo de acabamento,
processo que requer uma diversificada quantidade de produtos químicos. O
produto dessa operação é um rejeito contaminado. O problema está
anunciado: em locais em que os processos de mineração não seguem a
legislação ambiental, os resíduos (cheios de produtos químicos tóxicos)
são liberados no meio ambiente.
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4. Operações de curtume
Anos de vida perdidos: 1,93 milhões
Quando você compra um cinto de couro provavelmente não imagina o
processo de produção por trás do acessório. Muito antes de chegar às
lojas (ou às suas calças), o material que constitui esse e outros
produtos similares passou por um conjunto de procedimentos que recebe o
nome de curtimento. É através deste processo que as peles de animais são
tratadas e transformadas em couro. E, como você pode imaginar,
transformar a pele dos bichinhos em matéria prima para produção de
sapatos requer o uso de uma quantidade grande de produtos químicos. Enquanto em fábricas regulamentadas o impacto ambiental é controlado, em operações informais o risco de contaminação cresce.
Na Índia, por exemplo, 75% dos curtumes foram produzidos em operações
de pequena escala em 2011, em locais onde geralmente faltam recursos
para investir em mecanismos de controle eficiente da grande quantidade
de resíduos produzidos.
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5. Lixões industriais e municipais
Anos de vida perdidos: 1,234 milhões
Lixo doméstico, pilhas, sucata e resíduos agrícolas, hospitalares e
de processos industriais. Em aterros sanitários regularizados há
controle e separação dos resíduos – encaminhando materiais cancerígenos,
corrosivos, tóxicos ou inflamáveis para tratamento. Mas nos lixões e
locais de despejo irregulares tudo está junto e misturado. O resultado
não poderia ser outro se não a ampla contaminação do solo, dos lençóis
freáticos e da população. A maior parte destes lixões está localizada na
África, no Leste Europeu e nos países do norte da Ásia e os impactos na saúde causados por estes poluentes incluem câncer pulmonar, problemas neurológicos e doenças cardiovasculares.
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6. Parques industriais
Anos de vida perdidos: 1,06 milhões
Os parques industriais são locais com infraestrutura geralmente
construída pelos governos para atrair e apoiar a atividade. É bonito no
papel, mas nem sempre na prática. A contaminação em parques industriais
geralmente é causada pela falta de tecnologia e infraestrutura adequadas
para o tratamento de resíduos ou controle da poluição. Emissões
de poluentes no ar, contaminação das águas superficiais e dos aquíferos
são os principais problemas encontrados em propriedades mal geridas e
controladas.
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7. Mineração artesanal (garimpo)
Anos de vida perdidos: 1,021 milhões
A mineração artesanal é uma atividade informal em pequena escala, mas libera mais mercúrio no ambiente que qualquer outro setor em todo o mundo.
Utilizando métodos rudimentares e baixa tecnologia, essas estruturas
geralmente não possuem nenhum controle de poluição. O minério, triturado
e lavado para obtenção do ouro, ganha adição de mercúrio durante o
processo – um método bastante ineficiente, que captura apenas cerca de
30% do ouro disponível. Porém, o mercúrio continua a ser usado por ser
barato e por estar amplamente disponível. Segundo o Instituto
Blacksmith, mais de 4,2 milhões de pessoas estão expostas ao risco de
contaminação, a maioria na África e Sudeste Asiático, mas com uma alta
concentração de garimpeiros também na América Latina.
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8. Fabricação de manufaturas
Anos de vida perdidos: 786 mil
Essencial para a prosperidade de um país e importante para os
consumidores individuais, a fabricação de produtos manufaturados é um
dos principais contribuintes para o PIB e para a economia global –
segundo relatórios do World Economic Forum, a quantidade de produtos
manufaturados exportados influencia em 70% das variações do PIB. No caso
de países de baixa e média renda, enquanto a demanda por produtos
cresce, a rápida expansão da sua fabricação é estimulada, mas nem sempre
isso significa melhorias na infraestrutura – 3,5 milhões de pessoas
encontram-se potencialmente expostas a poluentes tóxicos. Com mais da
metade dos problemas localizados no Sul e Sudeste Asiático, onde a
regulamentação da fabricação de produtos (você já sabe) é frequentemente
negligente, o problema também está presente em outras regiões como a
África e a China, responsável por 15% dos produtos fabricados no mundo.
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9. Fabricação de produtos químicos
Anos de vida perdidos: 765 mil
Produtos químicos de base, como pigmentos, corantes, gases e
petroquímicos; materiais sintéticos, como plásticos, produtos de
pintura, produtos de limpeza. A fabricação de produtos químicos é
uma fonte de poluição tão grande que o Instituto Blacksmith elabora
relatórios individuais para itens como os produtos farmacêuticos,
solventes, corantes e os pesticidas. Com a maioria dos focos
dos problemas na China, Europa Oriental e Sul da Ásia, a indústria de
produtos químicos coloca cerca de 5,3 milhões de pessoas em risco de
exposição. O caso da Europa Oriental é ainda mais grave, com um número
desproporcional da população de risco – cerca de 3 milhões de pessoas.
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10. Indústria de corantes
Anos de vida perdidos: 430 mil
Corantes são utilizados desde 3.500 a.C. para tingir tecidos e outros
materiais. O que mudou de lá para cá é a quantidade de produtos
químicos envolvidos no processo. E é aí que está o perigo: ácido
sulfúrico, crômio, cobre e outros elementos metálicos estão entre os
químicos mais encontrados nos corantes. E ao longo do processo de
fabricação muitos outros aditivos, como solventes e compostos químicos,
também são utilizados. Para se ter uma noção de como esses produtos
podem ser altamente poluentes, é só pensar apenas no caso das indústrias
têxteis: com uma produção anual de 60 bilhões de toneladas de tecidos,
as fábricas utilizam 34 trilhões de litros de água para resfriamento,
limpeza de equipamentos e lavagem e processamento de corantes e
produtos. Quando todo esse processo não é fiscalizado, quem paga a conta
é a população: segundo dados do Instituto Blacksmith, a indústria de
corantes põe em risco mais de 1 milhão de pessoas em todo mundo, com o
foco do problema se concentrando principalmente no Sul Asiático e na
Índia.
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* A base de
dados do Instituto Blacksmith inclui mais de 1.600 focos de poluição
localizados na África, Ásia, Europa, América Central e América do Sul.
Segundo os pesquisadores que assinam o relatório, o impacto dos
poluentes tóxicos identificados é mais alto nos países em
desenvolvimento. Isso se deve a fatores como má regulamentação
industrial, menor controle dos resíduos nocivos, proximidade de
indústrias perigosas aos centros urbanos, falta de conhecimento relativo
aos impactos dos dejetos na saúde e a falta de recursos dos pequenos
produtores para contenção de resíduos. Estes problemas levantam questões
para o futuro: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OECD) estima que, em 2020, a produção global de produtos
químicos seja 85% mais alta que em 1995 e um terço dessa produção
acontecerá em países em desenvolvimento. O aumento é significativo: na
década de 1990, correspondia a apenas um quinto da produção.
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Fontes: Instituto Blacksmith, World’s Worst Pollution Problems Report
http://abr.io/Hi0Y
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Fontes: Instituto Blacksmith, World’s Worst Pollution Problems Report
http://abr.io/Hi0Y