7 conflitos atuais causados por diferenças religiosas
Jessica Soares 8 de outubro de 2012
Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Depois da II Guerra Mundial, a ONU adotou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que colocava em pauta o “respeito universal e
observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”.
O ideal foi reforçado em 1999, ano em que líderes budistas,
protestantes, católicos, cristãos ortodoxos, judeus, muçulmanos e de
várias outras religiões se reuniram para assinar o Apelo Espiritual de Genebra.
O documento pedia aos líderes políticos e religiosos algo simples: a
garantia de que a religião não fosse mais usada para justificar a
violência.
Passados muitos anos e outras muitas tentativas de garantir a
liberdade religiosa, grande parte dos conflitos que hoje acontecem no
mundo ainda envolve crenças e doutrinas, que se misturam a uma complexa
rede de fatores políticos, econômicos, raciais e étnicos. De “A a T”,
conheça sete conflitos atuais que têm, entre suas motivações, a
intolerância religiosa:
1. Afeganistão
Grupos em conflito: fundamentalistas radicais muçulmanos e não-muçulmanos
O Afeganistão é um campo de batalhas desde a época em que Alexandre, o
Grande, passava por lá, em meados de 300 a.C. Atualmente, dois grupos
disputam o poder no país, em um conflito que se desenrola há anos. De um
lado está o Talibã, movimento fundamentalista islâmico que governou o
país entre 1996 e 2001. Do outro lado está a Aliança do Norte,
organização político-militar que une diversos grupos demográficos
afegãos que buscam combater o Regime Talibã.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a Aliança do Norte
passou a receber o apoio dos Estados Unidos, que invadiram o Afeganistão
em busca do líder do Al-Qaeda, Osama Bin Laden, estabelecendo uma nova
república no país. Em 2011, americanos e aliados comemoraram a captura e
morte do líder do grupo fundamentalista islâmico responsável pelo
ataque às Torres Gêmeas, mas isso não acalmou os conflitos internos no
país, que continua sendo palco de constantes ataques talibãs.
2. Nigéria
Grupos em conflito: cristãos e muçulmanos
Não é apenas o rio Níger que divide o país africano: a população
nigeriana, de aproximadamente 148 milhões de habitantes, está
distribuída em mais de 250 grupos étnicos, que ocuparam diferentes
porções do país ao longo dos anos, motivando constantes disputas
territoriais. Divididos espacialmente e ideologicamente estão também os
muçulmanos, que vivem no norte da Nigéria, e cristãos, que habitam as
porções centro e sul. Desde 2002, conflitos religiosos têm se acirrado
no país, motivados principalmente pela adoção da sharia, lei islâmica, como principal fonte de legislação nos estados do norte. A violência no país já matou mais de 10 mil pessoas e deixou milhares de refugiados.
3. Iraque
Grupos em conflito: xiitas e sunitas
Diferentes milícias, combatentes e motivações se misturam no conflito
que tem lugar em território iraquiano. Durante os anos de 2006 e 2008, a
Guerra do Iraque incluía conflitos armados contra a presença do
exército dos Estados Unidos e também violências voltadas aos grupos
étnicos do país. Mas a retirada das tropas norte-americanas, em dezembro
de 2011, não cessou a tensão interna. Desde então, grupos militantes
têm liderado uma série de ataques à maioria xiita do país. O governo
iraquiano estima que, entre 2004 e 2011, cerca de 70 mil pessoas tenham sido mortas.
4. Israel
Grupos em conflito: judeus e mulçumanos
Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em um Estado judeu e
outro árabe. Um ano depois, Israel foi proclamado país. A oposição entre
as nações árabes estourou uma guerra, que, com o crescimento do
território de Israel, deixou os palestinos sem Estado. Como tentativa de
dar fim à tensão, foi assinado em 1993 o Acordo de Oslo, que deu início
às negociações para criação de um futuro Estado Palestino. Tudo ia bem
até chegar a hora de negociar sobre a situação da Cisjordânia e da parte
oriental de Jerusalém – das quais nem os palestinos nem os israelenses
abrem mão.
Na Palestina, as eleições parlamentares de 2006 colocaram no poder o
grupo fundamentalista islâmico Hamas. O grupo é considerado uma
organização terrorista pelas nações ocidentais e fracassou em formar um
governo ao lado do Fatah – partido que prega a reconciliação entre
palestinos e israelenses. O Hamas assumiu o poder da Faixa de Gaza. E o
Fatah chegou ao da Cisjordânia, em conflitos que se prolongaram até
fevereiro de 2012, quando os dois grupos fecharam um acordo para a
formação de um governo. Mas segundo o site da Al Jazeera,
rede de notícias do Oriente Médio, a rixa continua. Eleições
parlamentares e presidenciais serão conduzidas nos dois territórios e a
tensão internacional permanece pela possibilidade do Hamas voltar a
vencer no processo eleitoral.
5. Sudão
Grupos em conflito: muçulmanos e não-muçulmanos
A guerra civil no Sudão já se prolonga há mais de 46 anos. Estima-se
que os conflitos, que misturam motivações étnicas, raciais e religiosas,
já tenham deixado mais de 1 milhão de sudaneses refugiados. Em maio de
2006 o governo e o principal grupo rebelde, o Movimento de Libertação do
Sudão, assinaram o Acordo de Paz de Darfur, que previa o desarmamento
das milícias árabes, chamadas janjawid, e visava dar fim à
guerra. No mesmo ano, no entanto, um novo grupo deu continuidade àquela
que foi chamada de “a pior crise humanitária do século” e considerada genocídio pelo então secretário de estado norte-americano Colin Powell, em 2004.
6. Tailândia
Grupos em conflito: budistas e mulçumanos
Um movimento separatista provoca constantes e violentos ataques no
sul da Tailândia e criou uma atmosfera de suspeita e tensão entre
muçulmanos e budistas. Apesar dos conflitos atingirem os dois grupos,
eles representam parcelas bastante desiguais do país: segundo dados do
governo tailandês, quase 90% da população do país é budista e cerca de
10% muçulmana.
7. Tibete
Grupos em conflito: Partido Comunista da China e budistas
A regulação governamental aos monastérios budistas teve início quando
o Partido Comunista da China marchou rumo ao Tibete, assumindo o
controle do território e anexando-o como província, em 1950. Mais de
meio século se passou desde a violenta invasão, que matou milhares de
tibetanos e causou a destruição de quase seis mil templos, mas a
perseguição religiosa permanece. Um protesto pacífico iniciado por
monges em 2008 deu início a uma série de protestos no território considerado região autônoma da República Popular da China.
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